segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mundança

Casa de recuperação, sanatório. Na verdade, a palavra mais adequada era hospício, mas soava tão áspera que preferiram não usá-la. Ele ia, silencioso e sedado, como se tivesse aceitado que o destino era esse e nada ele poderia fazer.
A clínica era bem decorada, um jardim extenso, médicos simpáticos, um cheiro doce no ar. Quando será que custaria essa paz?
As paredes eram angustiosamente brancas.
Brancas, tão brancas, capazes de cegar.
Tão brancas e ainda somadas a luz fria e o ar pesado de um lugar cheio de máscaras.
- Não vou durar muito aqui...
Foi só um sussurro. O médico perguntou o que ele tinha dito e ele apenas respondeu um automático "deixa pra lá". O mundo havia jogado-lhe dentro de um poço branco, sem qualquer possibilidade de retorno.
Os internos já olhavam para ele de um jeito estranho, como se dissessem que sabiam o que ia acontecer. Talvez realmente soubessem, há quem diga que os loucos tem uma sensibilidade maior do que as pessoas "normais". Talvez eles soubessem.

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